domingo, 7 de novembro de 2010













LUGAR DE CRIANÇA É NA ESCOLA
Texto de Jeane Siqueira

I
Quando o pai desempregou
E a pobre mãe adoeceu
João deixou de estudar
Abandonando os sonhos seus

II
Trabalhou pegando frete
Na quitanda de Mateus
Um velho carro de mão
Foi o que seu pai lhe deu

III
E esse tal carro de mão
Andava sempre carregado
Dos fregueses da quitanda
João ganhava uns trocados

IV
Trabalhava todo dia
Sem tempo para brincar
Mas sempre vendo os amigos
No campinho a jogar

V
A professora sentiu falta
Da presença de João
Foi falar com a família
Pra pedir explicação

VI
Deu conselhos pra sua mãe
Pra seu pai, pra seu avô
Exigiu que João voltasse
Mas de nada adiantou

VII
Disseram que era tolice
Ter um filho estudando
Se a pobreza era grande
Se tudo estava faltando

VIII
É que a mãe de João gostou
De ver o filho trabalhando
Era pouco o que ganhava
Mas estava ajudando

IX
E o tempo foi passando
João cresceu sem estudar
Ficou pobre a vida inteira
Não pôde nem se casar

X
Quando os pais faleceram
João ficou sozinho no mundo
Trabalhando noite e dia
Sem descansar um segundo

XI
E o tempo trouxe a velhice
Levando as forças de João
Que deixou de levar frete
No seu carrinho de mão

XII
Na Praça Chora Menino
João viveu pedindo esmola
Vendo crianças brincando
Outras indo pra escola

XIII
Como seria a sua vida
Se tivesse estudado?
Será que ele estaria
Naquela praça largado?

XIII
Lembrava da sua infância
Dos seus sonhos de menino
Se tivesse estudado
Compraria um violino

XIV
Na orquestra do Recife
Tocaria com amor
E casaria com uma flautista
De olhar encantador

XV
E assim teria muitos filhos
Um da polícia, outro doutor
O mais novo grande artista
E o mais velho professor

XVI
Mas pro coitado do João
Restou frio, fome e tosse
E o banco daquela praça
Que o enchia de micoses

XVII
Antes que a morte chegasse
Ele pôde compreender
Que feliz é a criança
Que estuda e tem lazer

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